Entrançar Cebolas

A tradição já não é o que era. Infelizmente.
Os tempos mudam, as vontades evoluem e os conhecimentos, as profissões e a sabedoria antiga vai-se perdendo. Mas, felizmente, ainda há por esse mundo fora, pessoas com vontade de continuar o que os seus antepassados começaram. Ainda há pessoas que dão valor, que se mostram interessadas e, com o revirar do mundo e das alterações climáticas, tem entendido que, se calhar, voltar às origens é o passo mais acertado.
Sabem bem que por aqui é o que tentamos todos os dias… e mesmo que seja em passinhos pequeninos, o nosso objectivo é preservar o que já foi feito e evoluir a partir daí, sempre com consciência que somos ainda só uma gotinha do oceano.

Isto tudo para vos dizer que, desde que nos mudamos sentimos que tínhamos que estar mais perto e apoiar a nossa família… e eu, Cristina, todos os dias valorizo mais esta aproximação ao meu pai. Nunca fomos tão próximos como somos agora, e relembro o primeiro ano que colhemos juntos 2 toneladas de azeitona e no final nos abraçamos com emoção depois dessa tarefa dantesca.
No ano passado, quando ele arranjou as cebolas não consegui sentar-me ao lado dele…outras tarefas tão menos importantes se sobrepuseram. Na realidade foi necessário o falecimento da minha mãe para perceber que tenho que dar ainda mais valor a estes tempos. Assim, sabendo que não podia perder esta oportunidade e deixar perder esta tradição de entrançar as cebolas, este ano, com muita calma e tempo, sentei-me ao pé do meu pai e ele, pacientemente, ensinou-me esta técnica que muitos já não fazem e que se vai acabar por perder.
Desde que me lembro que Setembro é a altura das cebolas. Mas do que eu me lembro mesmo dessa altura era o cheiro das barraquinhas da feira que vendiam cebolas. Todas entraçadas com muito cuidado e muita paciência. Hoje, posso dizer com orgulho que sei entrançar cebolas e ensinarei a quem quiser aprender.