Parece estranho para alguns e chega a ser absurdo para outros. Aqui entre nós, aproveitei o dia que o meu pai não veio, para semear as batatas. Ele normalmente não se mete nas minhas experiências, mas achei que esta era daquelas que ia ter comentários.
A verdade é que existem vários métodos para chegar ao mesmo resultado… se funciona no final, cada um é livre de utilizar o método que mais lhe convém. Agora, temos que perceber o que estamos a fazer, certo? Não basta alguém nos dizer para fazermos assim e nós, sem olhar para os lados, seguirmos em frente.
A questão fundamental neste caso é entender como funciona o solo. Quando passeamos por uma floresta, ela tem um solo coberto de folhas e matéria morta. Para crescerem novas plantas, não há ninguém que vá lá cavar, ou pior, lavrar, para que novas plantas nasçam…pelo contrário, isso só mataria a estrutura do solo. A estrutura do solo é fundamental para o seu estado de saúde. É essencial que não exista mobilização do solo para que a sua ecologia, ou seja, todos os microorganismos que ele contém possam fazer o seu trabalho, isto é, fazer crescer alimentos e plantas sãs. Assim, porque não transpor essa teoria que está mais que testada para as nossas hortas?
Resumindo, quanto menos tocarmos no solo, mais vida ele vai ter.
No Outono, quando fomos fazer um passeio micológico aqui na zona, explicaram-nos que o Micélio é como uma grande planta debaixo do solo e os cogumelos são a sua “fruta”. Fiquei fascinada com esta vida abaixo dos nossos pés que tanta importância tem e tão pouco valor lhe damos. Também nos disseram que ao lavrar um terreno, este Micélio chega a demorar pelo menos 5 anos a voltar a ter a força anterior. A verdade é que vemos campos infindáveis, completamente estéreis, mas que os continuamos a forçar a extrair comida.. comida pobre de um solo pobre.
Passando então à parte das batatas.
Já tinha visto este método anteriormente, mas foi um video que me convenceu a fazer-lo. Chama-se batatas preguiçosas e foi a Quinta da Simplicidade que o publicou.
Adaptei esse método e as minhas não foram assim tão preguiçosas, pois acabei por retirar algumas ervas daninhas que achei que me iriam dar problemas futuros.
De seguida coloquei uma base de composto vegetal e distribui as batatas já com grelo.
De seguida tapei com matéria verde (os trevos que tinha cortado no dia anterior) e finalmente com matéria castanha, a palha.
A vida continuou na Tapada do Mato e passados mais ou menos 15 dias germinou a primeira batata e passados mais 15 dias começaram todas a germinar.
Daí até darem flor e encantarem este pequeno cantinho foi mais um mês. Umas lindas flores, primeiro brancas e depois rosadas que nos deram o ar da sua graça por mais um mês.
Há quem nunca tenha visto ou simplesmente não deu atenção (mas eu sou daquelas que nada me passa despercebido e conheço as minhas culturas como as palmas das minhas mãos), e depois de caírem as flores, pareceram estes “tomatinhos”. A semente da batata.
Pedi conselhos, e todos pareceram pouco interessados. Se é mais fácil produzir batatas a partir de batatas, porque semear com semente? Mas eu sou daquelas que gosta de desafios…por isso estão ali guardadinhas. No próximo ano saberemos!
Mais 15 dias e levada pela curiosidade, experimentei arrancar e ver como estavam as batatinhas.
Surpresa, surpresa!…. Lindas! O verdadeiro milagre da multiplicação que só acontece nesta natureza maravilhosa. Que acontece quando temos muita paciência, muito amor e dedicação.
Só quem alguma vez deitou sementes à terra, cuidou e no final colheu é que entende a sensação maravilhosa que foi quando vi pela primeira vez as “minhas” batatas!
Sempre tive imensa curiosidade de saber o que acontecia à batata mãe. E lá estava ela…cansada, sem forças mas com o dever cumprido.
As novas batatinhas, essas estão vaidosas à espera de serem saboreadas em petiscos ainda este verão ou em sopas reconfortantes no inverno.
Conclusão. Sim, este é o método mais eficaz para semear batatas. E não podia dizer isto se não tivesse experimentado o outro método. Semeei mais um punhado delas num canteiro pelo método tradicional e foi sem dúvida muito mais difícil de as arrancar. Ficaram sujas, perdidas pelo meio da terra e ainda magoei algumas por ter que as cavar.
Assim sendo, 3 meses e meio de aventura mas com um final de sucesso para as batatas preguiçosas!